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Posts Tagged ‘praia grande’

Por Renato Silvestre

Há dez anos estava na casa de um grande amigo na Praia Grande para comemorar o seu aniversário. Meu irmão, Eduardo, também estava conosco. Em determinado momento, ele resolveu sair com o carro para dar uma volta pela praia. O tempo passou e ele reapareceu. O susto que tomei foi enorme. Seu rosto estava pálido e sua camiseta toda molhada de sangue.

Pela primeira vez em minha vida senti ali o gosto da violência urbana em sua face mais cruel. Assustado, enquanto seguíamos para o hospital, Eduardo me contou que, enquanto dirigia pela avenida da praia vagarosamente ouvindo um som, foi cercado por marginais de bicicleta que dispararam contra o carro. Por sorte e muito de sua habilidade ao volante ele conseguiu fugir. Foram quatro disparos, mas uma bala o acertou, ficando alojada em um músculo próximo ao pescoço. Enquanto o sangue escorria por suas costas e eu inutilmente pressionava o ferimento tentando conter o fluxo, havia ali uma comunhão perfeita de revolta e indignação diante deste mundo louco e violento, onde a vida não vale nada. Apesar de tudo e do péssimo atendimento hospitalar, meu irmão ficou bem.

Obviamente, a noite de terror que tive naquela ocasião, não se compara ao que os pais das crianças da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro sentem hoje. A dor por perder um filho de forma tão violenta jamais se apagará. Os sobreviventes que presenciaram a morte de seus amigos precisarão de muito apoio e de amor para superar esse trauma.

Um atirador, tal qual, em Columbine, nunca será apenas um simples atirador. Esqueçam a loucura, as condições e as injustiças sociais, o que de fato precisa ser repensado é a questão do armamento. Precisaremos de quantos mortos e feridos inocentes para perceber que o caminho das armas é o pior? Sei bem que boa parte das armas que “andam” por aí não são legalizadas e o pior, quando são, geralmente são de uso exclusivo dos militares, no entanto, é preciso dar um basta.

O choro das mães de inocentes precisa ser respeitado. Não quero um mundo com tantas injustiças, com tanta tristeza e com tanta dor. Vivemos em uma sociedade onde a onda de violência cresce e o medo toma conta calando as pessoas de bem. Não temos educação, não temos saúde, não temos emprego, não temos respeito aos direitos individuais e coletivos. Não temos vida e a liberdade é cada vez mais uma grande utopia. Não sei vocês, mas esse mundo eu não quero!

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A propósito, se algum jornalista consegue manter o sangue frio diante de tal situação e ainda se manter feliz, parabéns pelo seu dia!

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