Era uma vez uma camisa amarela, que por carregar tantas glórias movia consigo sentimentos verdadeiros e por vezes contraditórios. Uma paixão interminável a cada conquista e um ódio avassalador em cada derrota. Forjada por lendas humanas, era temida como nenhuma outra. Podia perder acidentalmente, ou ganhar sem tanto brilho, mas arrastava multidões em uma única vibração.
A camisa nunca estava sozinha, havia identificação e comoção, sobretudo porque ao longo dos anos simbolizou o sucesso de um povo. Durante os tempos de chumbo, apesar de usada como ferramenta de alienação, conquistou cada vez mais adeptos e mesmo os mais radicais, a torcida contra, não resistiam muito tempo. Ali estavam os melhores entre os melhores, cada um dos mais virtuosos em suas tribos unidos por um único ideal.
O orgulho, entretanto, ao pouco foi se apagando e as emoções aos extremos sumindo em cinzas. Em meio a escândalos, derrotas no tapete verde e no tapetão, vexames internacionais e a descaracterização crescente da identidade da camisa de um povo, que nela se via representada, a paixão foi se perdendo.
A casa da camisa amarela migrou para terras distantes. Arenas modernas e um afastamento cada vez maior de seu povo. Longe demais, em tribos que não são as nossas, a relação esfriou de vez. Os ídolos também passaram a nascer, crescer e viver em aldeias distantes, tornaram-se irreais, quase que tão insignificantes como estátuas de cera, que com qualquer pequeno calor derrete-se e modifica-se, tornando-se um gigantesco e tremendo nada.
Culpa da ausência de guerreiros com atributos e potencialidades à altura dos virtuosos de outrora ou da cúpula de pseudo caciques e pajés, seres vergonhosos e sujos? Não há uma resposta definitiva, mas sim, um conjunto de fatores e um fato é concreto, a camisa amarela desbotou. Sem o carisma do passado, maltratada, capitalizada e afastada de seu povo torna-se aos poucos insignificante.
A ausência de seres fantásticos, mas humanos como no passado, também é gritante. Sem garrinchas, folhas-secas, tostões, furacões, canhotinhas e canhoteiros, galinhos, falcões, baixinhos, fenômenos e do único Rei, vira uma covardia querer que o último dos moicanos, o fascinante moleque praiano, resolva tudo sozinho e resgate a cor perdida com o tempo… ao menos por enquanto, era uma vez uma camisa amarela!