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Posts Tagged ‘conquistas’

Por Renato Silvestre

Era uma vez uma camisa amarela, que por carregar tantas glórias movia consigo sentimentos verdadeiros e por vezes contraditórios. Uma paixão interminável a cada conquista e um ódio avassalador em cada derrota. Forjada por lendas humanas, era temida como nenhuma outra. Podia perder acidentalmente, ou ganhar sem tanto brilho, mas arrastava multidões em uma única vibração.

A camisa nunca estava sozinha, havia identificação e comoção, sobretudo porque ao longo dos anos simbolizou o sucesso de um povo. Durante os tempos de chumbo, apesar de usada como ferramenta de alienação, conquistou cada vez mais adeptos e mesmo os mais radicais, a torcida contra, não resistiam muito tempo. Ali estavam os melhores entre os melhores, cada um dos mais virtuosos em suas tribos unidos por um único ideal.

O orgulho, entretanto, ao pouco foi se apagando e as emoções aos extremos sumindo em cinzas. Em meio a escândalos, derrotas no tapete verde e no tapetão, vexames internacionais e a descaracterização crescente da identidade da camisa de um povo, que nela se via representada, a paixão foi se perdendo.

A casa da camisa amarela migrou para terras distantes. Arenas modernas e um afastamento cada vez maior de seu povo. Longe demais, em tribos que não são as nossas, a relação esfriou de vez. Os ídolos também passaram a nascer, crescer e viver em aldeias distantes, tornaram-se irreais, quase que tão insignificantes como estátuas de cera, que com qualquer pequeno calor derrete-se e modifica-se, tornando-se um gigantesco e tremendo nada.

Culpa da ausência de guerreiros com atributos e potencialidades à altura dos virtuosos de outrora ou da cúpula de pseudo caciques e pajés, seres vergonhosos e sujos? Não há uma resposta definitiva, mas sim, um conjunto de fatores e um fato é concreto, a camisa amarela desbotou. Sem o carisma do passado, maltratada, capitalizada e afastada de seu povo torna-se aos poucos insignificante.

A ausência de seres fantásticos, mas humanos como no passado, também é gritante. Sem garrinchas, folhas-secas, tostões, furacões, canhotinhas e canhoteiros, galinhos, falcões, baixinhos, fenômenos e do único Rei, vira uma covardia querer que o último dos moicanos, o fascinante moleque praiano, resolva tudo sozinho e resgate a cor perdida com o tempo… ao menos por enquanto, era uma vez uma camisa amarela!

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Por Renato Silvestre

Se o tempo e a velocidade com que ele passa é algo relativo, essa relatividade, nessa época maluca de pós-modernidade, com todas as suas nuances e incertezas, parece ter levado a humanidade a viver um círculo vicioso de atos pré-programados e “eletronicamente modificados”.

A tecnologia, companheira em inúmeras batalhas travadas pelo homem rumo ao desconhecido, por vezes tende a nos escravizar e acelerar nossos passos e atos, além de criar inúmeras “necessidades desnecessárias”.  Dentro deste cenário, somos de certa maneira dependentes cada vez mais de coisas que pouco influenciavam a vida de nossos pais ou avós, e o pior disso tudo é o sentimento contínuo de que sempre estará faltando algo em nossas vidas e de que tudo o que queremos precisa ser nosso em um piscar de olhos.

O sentimento quase que poética da conquista, seja de objetivos ou do amor alheio, está se tornando parte pouco importante nesse cotidiano, simplesmente porque o salutar gosto de alcançar uma tão sonhada conquista precisa e, mais do que isso, necessita ser imediatamente digerido para que haja espaço para outros tantos prazeres imediatos.

A pressa está criando uma nova espécie de indivíduos, seres estranhos, imediatistas e inusitados. Pouco se pensa na vida, pouco se olho para o outro e se admira suas inúmeras qualidades, pouco se observa o mundo e suas maravilhas e pior, hoje, pouco se respira, porque simplesmente não há tempo pra isso.

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